Advertisement

Responsive Advertisement

Andarilhos | R. Tavares


    Narrado em terceira pessoa, R. Tavares nos apresenta em Andarilhos a história de Pedro Guarany, filho de um índio, aparentemente sem rumo e sem lar nos pampas no começo do século XX. Nesse livro, conhecemos a natureza dos homens e das paisagens forjadas no sul brasileiro e é através das vivências dos personagens principais que o autor nos mostra o retrato de uma época e de uma cultura que diz muito do que é ser gaúcho.

O trabalhador rural sofre o castigo injusto de derramar seu suor sobre uma terra que jamais será sua. E a constatação pior: ao reconhecerem em sua exploração uma espécie de tradição, o trabalhador acaba sendo cumplice de seu próprio aviltamento.

    Enquanto lia esse livro, a primeira e mais forte impressão que tive é a de que o andarilho sulista e o sertanejo são mais parecidos do que eu imaginava. Tenho em minha família, aqui no sudeste baiano, quem me conte histórias de outrora, de homens brutos e vaqueiros sem rumo. E enquanto lia Andarilhos, não pude deixar de me lembrar dessas narrativas contadas ao longo de minha infância pelos mais velhos. Principalmente, as que vieram da voz do meu avô.

    Descobri o romance através de um vídeo-resenha no booktuber, mas só tive a oportunidade de encarar a leitura durante o mês de novembro. E eu me arrependo muito de não o ter lido esta obra antes, meus amigos… Que livro! Essa é uma daquelas histórias nas quais a gente mergulha com tudo que há de leitor em nós e, de repente, se acabou. Ficamos órfãos.

    Eu não vou me estender aqui contando a sinopse do livro por acreditar que acabaria estragando boa parte da experiência de leitura de vocês. Apenas desejo salientar os pontos mais interessantes que encontrei, para além da história em si. R. Tavares tem um domínio da narrativa e do tempo como poucos outros autores e abusa disso em sua obra. Essa é uma forma, é claro, de despertar nosso interesse em descobrir e entender o que diabos está acontecendo a cada momento. E funciona maravilhosamente bem.

    Tem também o meu aspecto favorito do livro: a linguagem. Eu não tive contato com muitas obras sulistas ao longo da minha vida, mas já conhecia o sotaque e gírias gaúchas de outras referências. Entretanto, a leitura desse livro foi uma experiência completamente inesperada. Todas as características regionais estão lá, mas o texto não fica truncado nem de difícil compreensão. Na verdade, eu ganhei algumas palavrinhas e expressões novas para o meu vocabulário.

    Quanto a história, o que posso dizer é que ela começa despretensiosa e de repente você se vê preso em uma teia de curiosidade e aflição sem fim. Nesse livro há, sobretudo, pequenos núcleos que nos fazem pensar na condição da natureza humana e ao mesmo tempo nas complexidades sociais de cada época e região. Esse é um livro que instiga revolta. Mas é um romance, e por isso, eu só posso agradecer, pois é a característica romanesca que me garantiu um final para sossegar o coração.

Era o destino que os estava aproximando novamente. E contra o destino não adiantava: não se fazia preço com ele. Pagava-se o que a ele era devido.

    R. Tavares é advogado e escritor brasileiro. Andarilhos nasceu de um conto do autor, escrito em 2007, intitulado O Andarilho. Dentre as suas obras publicadas há também Noite Escura e Contos Sangrentos.


Comprando qualquer produto através dos links do Palavra Afetiva,
você não gasta nada a mais por isso, mas me ajuda com uma pequena
comissão para manter esse projeto de pé!


Postar um comentário

0 Comentários