E é praticamente impossível que isso não fosse acontecer, afinal, esse é mais um daqueles casos clássicos em que deturparam completamente uma ótima história ao transforma-la num roteiro (eu nunca vou superar Percy Jackson, e já fazem seis anos...). Continuo adorando o filme, mas considero-o quase uma segunda história com alguns dos mesmos personagens. Depois ainda perguntam porque não me empolgo mais ao saber que meus livrinhos vão virar filme...
Então sim, esse foi o meu primeiro contato com os livros do Tolkien. E eu sei que é um livro "infantil" e eu claramente consigo me ver lendo-o para o meu primo de seis anos (embora não consiga vê-lo parando por seis minutos para me ouvir...), mas acho que esse é aquele tipo de literatura que ultrapassa a si mesmo, e encanta todo e qualquer um com um pouquinho de imaginação.
"Voltar?", pensou. "Não adianta nada! Ir para os lados? Impossível. Ir em frente? A única coisa a fazer! Adiante, então!" (p.70)
Mas vamos falar sobre Bilbo, personagem que me ganhou tanto na tela quanto nas páginas. O pequeno hobbit é justamente aquele tipo que evolui com a história (e adivinha só, eu adoro isso). Logo nas primeiras páginas, somos apresentados a uma criatura acomodada e amedrontada que jamais se imaginaria embarcando numa aventura. E de repente ele é pego por aquele bichinho que nos morde (alguns com mais frequência do que outros) e nos leva a fazer coisas que antes nos eram impensáveis (imprudência, talvez?).
Assim, com o desenrolar da narrativa, nós vemos o Sr. Bolseiro crescer diante de nossos olhos e tornar-se um verdadeiro aventureiro a medida que a história avança. Não, é claro, sem muito medo e falta de opções, como na verdade acho que tem que ser. E essa, talvez, seja a grande sacada o autor. Ele se arrepende o tempo inteiro de ter saído de casa, até que finalmente aprende a apreciar a jornada (não que ele se sinta menos atraído por sua toca, é claro). Me parece muito com todas as empreitadas e tentativas de socialização dessa que vos escreve...
Já Gandalf, o queridinho de muita gente na internet, não me empolgou tanto. Ao contrário de Bilbo, ele é um personagem que já nos é entregue pronto. Ele chega, faz o que tem que fazer e desaparece por longos períodos até que a enrascada em que o hobbit e os anões se meteram seja complicada de mais para que eles lidem sozinhos. Não há entrosamento ou evolução, e isso realmente me faz pensar que a única coisa que faz dele o grande sucesso que é, é o fato de ser extremamente poderoso.
E, é claro, tem os treze anões, que liderados por Thorin, são quase uma única entidade. Uma força na história, e não treze personagens que se desenvolvem individualmente. Mesmo o seu líder (que por sinal é muito menos irritante no livro do que no filme) não se difere muito do corpo de sua expedição.
Mas num geral, os personagens (e são muitos) acabam encaixando direitinho na trama e criando um universo completamente diferente, o que explica porque Tolkien é considerado por tanta gente o mestre da literatura fantástica. Principalmente levando em consideração que essa foi uma história publicada pela primeira vez em 1937. Que ele tinha uma p*** imaginação, isso não há como negar...
Há mais coisas boas em você do que você sabe, filho do gentil Oeste. Alguma coragem e alguma sabedoria, misturadas na medida certa. Se mais de nós dessem valor a comida, bebida e música do que a tesouros, o mundo seria mais alegre. (p.281)
E agora uma coisa estranha sendo que até aqui falei tão bem do livro... Depois não digam que não avisei... Sendo curta e grossa, a leitura de O hobbit não é lá das mais fáceis. Sério. Principalmente se esse não é o tipo de literatura com a qual você está acostumado. Escrito em terceira pessoa e extremamente descritivo, é bem fácil acha-lo cansativo. Mas não chato. Nunca chato.
Assim, somando prós e contras, não dá mesmo para dizer que me arrependo dos quinze dias que levei para terminar esse livro (o início do ano foi bastante atribulado desse lado da tela) e de jeito nenhum preferiria estar lendo coisas mais "fáceis" nesse período. Não sei quando vou ler os próximos, afinal, com a volta as aulas e tudo o mais, fica realmente complicado por aqui, mas definitivamente pretendo ler mais dessa mitologia.
J. R. R. Tolkien foi um premiado escritor britânico, que recebeu o título de doutor em Letras e Filologia pela Universidade de Liège e Dublin em 1954, e autor de obras que foram traduzidas para mais de cinquenta idiomas, vendendo mais de 200 milhões de cópias e influenciando várias gerações.
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