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A Amiga Genial | Elena Ferrante


    Primeiro livro da tetralogia napolitana, A Amiga Genial, assinado pela autora italiana Elena Ferrante, nos conta sobre o relacionamento entre duas personagens: Elena Grego (apelidada de Lenu) que é, também, narradora da história e Raffaela Cerullo (a Lila). O livro começa quando a Lenu recebe uma ligação do filho de sua a amiga procurando pela mãe. Ao que tudo indica, Lila conseguiu o grande feito de sumir sem deixar vestígios. A partir daí, acompanhamos as reminiscências da narradora voltando até o momento em que conheceu aquela que viria a ser sua melhor amiga.

    Em meio a pobreza e truculência em que vivia na Nápoles da década de 1950, num bairro pobre e em que as expectativas de vida não eram muito altas, Elena estava acostumada a ser a menina mais inteligente da turma e se agarrava a essa conquista com unhas e dentes. Quando outra garota chega ali, tão inteligente quanto ela e ao mesmo tempo tão diferente, Lenu é dominada pelo fascínio e curiosidade, mas também pela inveja. Nesse momento, a ligação que se forma entre as duas passa a ser o fio da narrativa. São as aventuras, as brigas, as competições e os planos que fazem juntas que acompanhamos nesse volume.

A vida era assim e ponto final, crescíamos com a obrigação de torná-la difícil aos outros antes que os outros a tornassem difícil para nós.

    Escolhi esse livro para ler daquele jeito maluco que poucas pessoas praticam: às escuras. Não sabia a sinopse, quem era a autora e nem mesmo que tipo de gênero encararia. Estava eu passeando pelo Youtube e assistindo alguns vídeos com dicas de leitura no Kindle Unlimited quando, em um deles, alguém mencionou que um livro da Elena Ferrante estava disponível, e que embora não houvesse lido-o ainda, adorava outros títulos dela. E foi assim, completamente desinformada, que encarei a leitura. Porquê? Não me julguem, mas é que eu achei o título legal.

    É preciso admitir que durante as primeiras páginas o livro não me ganhou. Mas como eu estava viajando no período em que comecei a leitura, na volta para casa acabei dando uma segunda chance para ele e, surpreendentemente, passei todo percurso de mais de 3 horas sem tirar os olhos do Kindle. Fazia muito tempo que isso não acontecia comigo por causa da rotina corrida (geralmente leio de meia a uma hora dentro dos ônibus da vida e antes de dormir). E que livro meus amigos, que livro...

    A primeira coisa que preciso chamar a atenção aqui é a linguagem e o estilo da narrativa. Eu sei que nem todo mundo dá tanto valor assim a isso, mas me perdoem, eu sou fã assumida de gente que sabe escrever. E a Elena (autora) tem um jeito incrível de contar a sua história: Ela diz coisas extremamente profundas e complexas usando as palavras mais simples. Essa senhora é dona e proprietária de um estilo de narrativa que faz inveja a qualquer um.

    A segunda, e talvez até mais importante que a primeira, são as emoções com as quais a autora trabalha nesse texto. É como se fosse, em parte, uma biografia dos sentimentos conflitantes que existem entre duas amigas muito parecidas e ao mesmo tempo muito diferentes. Mas talvez eu seja suspeita para falar aqui. O que me fez gostar tanto desse aspecto da história é que eu também já tive uma melhor amiga de infância por quem me sentia, de muitas formas, do mesmo jeito que a narradora se sente a respeito da Lila (Rafaella). A mesma competitividade, o mesmo amor e até mesmo um pouco de inveja. Por isso acredito que haja um bom tanto de autobiografia aqui. Acho que só entende de verdade o que a Elena descreve (e só consegue escrever sobre isso) quem já experimentou essas sensações.

    Outro ponto que merece ser comentado é a descrição nua e crua de uma Nápoles que nunca conheci, mas da qual já me sinto intima, e que de certa forma nunca conhecerei pois foi retratada no pós-guerra, quando os homens eram bárbaros e as mulheres ainda tateavam esse novo lugar social que lhes cabia, onde os homens voltavam da guerra menos inocentes e à elas já não servia mais o papel desempenhado antes de todo o horror vivido naqueles anos. Uma Nápoles pobre e em guerra, mesmo depois do fim.

    Nem preciso dizer que fiquei com uma baita ressaca literária quando terminei de ler essa obra, certo? Principalmente porque a autora é bem sacana no fim, como é em todo o livro (diga-se de passagem). Se você for sensível como eu e tem acessos de lágrimas em qualquer lugar com uma cena dolorosa muito bem descrita, é melhor já andar com um lencinho no bolço. Sério. Depois não digam que eu não avisei. Mas sem spoilers aqui. Sendo assim, é preciso dizer que me apaixonei por A Amiga Genial como poucos me fizeram ao longo de tantos anos de leitura, e que dificilmente será esquecido.

(...) não há gestos, palavras, suspiros que não contenham a soma de todos os crimes que os seres humanos cometeram e cometem.

    Elena Ferrante é o pseudônimo de uma escritora italiana cuja identidade é mantida em segredo. A autora concede poucas entrevistas, todas elas por escrito e intermediadas pelas suas editoras italianas. Nelas, explica que optou pelo anonimato para poder escrever com liberdade e para que a recepção de seus livros não seja influenciada por uma imagem pública.

    P.S.: A tetralogia napolitana está sendo adaptada pelo canal HBO em uma série de 8 capítulos e você pode ler um pouquinho mais sobre isso -e dar uma conferida nas atrizes que interpretam as meninas- com uma pesquisa rapidinha no Google. Vale a pena dar uma olhada.


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