
Em Terra das mulheres, encontramos a história de uma sociedade utópica composta exclusivamente por mulheres. Através do olhar de três exploradores — Van, o narrador; Jeff e Terry — acompanhamos não apenas a descoberta dessa terra misteriosa, mas todos os pré-supostos que partem desses homens ao se deparar com uma civilização bem diferente daquilo que eles imaginavam. Um país só de mulheres, segundo os três, seria caótico, selvagem, subdesenvolvido, inviável.
(…) eram muito deficientes no que chamamos de “feminilidade”. O que me levou a convicção de que os “charmes femininos” que apreciamos não são nada femininos, mas apenas reflexos da masculinidade – desenvolvidos para nos agradar porque elas precisam nos agradar -, nem um pouco essenciais no desempenho. (p. 106)
Enfim, a resenha do livro que inspirou a criação das Amazonas e da Mulher-Maravilha. Uhuuul!
Pensem em um livro que me deixou inquieta? Foi esse aqui mesmo. Me compreendo enquanto feminista a muito tempo, mas ler Terra das Mulheres foi uma leitura reveladora para esta que vos escreve. Não esperem um tratado feminista, não é isso que temos aqui. É que através da narrativa ficcional, Gilman conseguiu por em cheque absolutamente todas as máximas sobre a feminilidade de uma forma extremamente racional.
No momento em que as mulheres dessa terra perdida se viram só e desprotegidas, elas fizeram aquilo que temos feito a muitos milhões de anos: se adaptaram e desenvolveram métodos que fossem capazes de sustentar aquelas vidas. E para isso, se desfizeram de todas as inutilidades que poderiam haver por ali. Parece utópico, mas é apenas a lei da sobrevivência, certo?
Até mesmo o conceito de maternidade é discutido aqui. Enquanto lia, descobri que algumas feministas contemporâneas acreditam que a perspectiva abordada na história não é lá muito feminista. Mas, honestamente, eu entendi exatamente o contrário. Não é que a maternidade seja inerente de toda mulher. É que numa terra sem homens, a partir do momento em que essas mulheres começam a gerar vida de forma independente, é natural que haja uma “santificação” da maternidade.
E tanto é que não seja uma obrigação, que há regulamentações que surgem com o passar dos anos de desenvolvimento do país das mulheres para esses novos bebês. Como se não bastasse, eles são criados apenas pelas mulheres que realmente tem afinidade e capacidade para criar as crianças. Fiquei horas pensando sobre isso e sobre o nossos próprios conceitos de maternidade, até onde nossa forma de amar esta ligada a ideia de posse. Não são poucas as vezes em que vi casos em que as mães/pais sentem ciumes de suas crias a ponto de prejudicar o psicológico delas.
E uma das sacadas mais geniais da história, ao meu ver, é a narrativa partir de um homem. É extremamente enriquecedor para a história as comparações que só podem ser feitas através desse embate entre duas culturas. Homens, que em toda a sua masculinidade afetada esperam ser dominadores e acabam se descobrindo reféns de algo muito maior e mais potente do que eles. Faz a gente pensar em até onde pode ir o patriarcado, que mesmo imergido dentro de uma sociedade inteiramente diferente, ainda age como se fosse superior.
Enfim, fica aqui a dica de um livro para te fazer pensar fora da caixinha.
(…) descobri que amar “de baixo para cima” era uma sensação muito boa, afinal. Produzia em mim uma impressão diferente, bem lá no fundo, como se remexesse uma consciência vaga e pré-histórica, o sentimento de que, de certa forma, elas estivessem certas – era assim que deveríamos sentir. (p. 246)
Charlotte Perkins Gilman foi uma grande romancista Americana, nascida ainda no século XIX. A autora também escreveu contos, poesia e não-ficção. Foi feminista em uma época em que suas ações não condiziam com as atitudes das mulheres e serviu de modelo para futuras gerações. O seu trabalho mais famoso é seu conto semi-autobiográfico O Papel de Parede Amarelo.
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