
O caráter macabro das histórias, dotadas de profundidade psicológica e imersas em uma atmosfera eletrizante, continua a conquistar novos leitores e a afirmar sua condição de clássico. Nas palavras de Paes, “Poe sempre consegue […] provocar-nos aquele arrepio de morte ou aquela impressão de vida que, em literatura, constituem o melhor, senão o único, passaporte para a imortalidade”. (Trecho da sinopse do Skoob)
Todavia, que tinha eu haver com a esperança? Era, como disse, uma ideia imprecisa, dessas que muitos têm e que nunca se completam. (p. 172)
Da primeira vez em que li Edgar Allan Poe, tinha por volta dos meus 12 ou 13 anos e estava começando a explorar a biblioteca da minha escola. Sempre tive um gosto pelo oculto e quando vi que tinha por lá uma edição do mestre do terror, não pude deixar quieto. Precisava experimentar. Entretanto, Contos Obscuros de Edgar Allan Poe foi, em sua grande parte, uma bela decepção. Eu não compreendia ainda as qualidades literárias que fazem de Poe um esplêndido contista e, muito menos, as diferenças sutis entre gótico, terror e horror. E as delicias de explorar cada um desses subgêneros. Para ser muito honesta, o único conto, naquela época, que realmente me marcou foi O Gato Preto – e convenhamos, ainda é meu favorito.
Mas vamos falar sobre a edição de Histórias Extraordinárias, livro lido para o primeiro mês da Meta de Leitura 2019. O exemplar com seleção, apresentação e tradução de José Paulo Paes é, fisicamente, um dos livros mais lindos que já tive o prazer de por as mãos. Nele constam 18 contos, ilustrações para cada um deles, e conteúdo extra por Julio Cortázar, Jorge Luis Borges e Charles Baudelaire. Preciso admitir que o que me fez voltar a ter interesse em Poe foi essa edição maravilhosa – Livro também se compra pela capa, não caiam nessas falácias que se ouve por aí (mas vamos falar sobre isso outro dia).
Para minha felicidade, minha experiência com Poe foi muito melhor dessa vez e eu acabei me apaixonando por muitos outros contos, além do mencionado ali acima, como O sistema do doutor Alcatrão e do professor Pena; O poço e o pêndulo; A máscara da morte rubra; O escaravelho de ouro; e William Wilson. Um ou outro não me agradaram, mas a maioria foram, ao menos, boas leituras. Entretanto, não vou comentar cada um deles, me desculpem. Uma das grandes sensações provocadas pelas leituras desses contos é não saber absolutamente nada do que acontecerá na linha seguinte. Poe não é, de forma alguma, previsível.
Acredito profundamente que parte do meu desagrado quando mais jovem se deu pelo que eu esperava do autor. Achei mesmo que teria medo ao ler suas histórias e que seria uma leitura fluída, como os livros que estava acostumada até então. Em Poe, não se encontra nem um, nem outro. Embora seus textos sejam bastante simples para a linguagem da época, dois séculos depois a leitura se torna um pouco prolixa. Sim, de vez em quando você vai precisar de um dicionário. Mas não é nada tão assustador assim e, facilmente, a gente embarca na história.
Agora, com a coisa do medo… Pois bem. Nesses contos, o que encontramos são elementos góticos que, querendo ou não, nos causam sensações de aflição ou de que estamos lendo algo obscuro e “pesado”. Mas você não sente pânico ou desespero ou medo, mesmo. O que sente é aquela sensação de algo ruim no ar. Toda a dor e sofrimento que ficam, naturalmente, suprimidos em algum lugar dentro de cada ser. E umas ideias macabras que ficam rondando seu subconsciente de vez em quando. Depois que aceitei isso, ficou muito mais gostoso aproveitar a leitura. Não haveria corações acelerados e sustos, e tudo bem. As histórias são excelentes mesmo assim.
Não sucede assim comigo. Devo ter sentido na minha infância, com o vigor de um homem feito, tudo aquilo que ainda hoje tenho gravado em minha memória em traços indeléveis, tão profundos e tão duradouros como os da cunhagem das moedas cartaginesas. (p. 346-347)
Edgar Allan Poe foi um autor, poeta, editor e crítico literário estadunidense, integrante do movimento romântico em seu país. Conhecido por suas histórias que envolvem o mistério e o macabro, Poe foi um dos primeiros escritores norte-americanos de contos e o primeiro escritor americano conhecido por tentar ganhar a vida através da escrita por si só.
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