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As boas mulheres da China | Xinran


    Peguei pesado ao escolher o primeiro livro do ano, eu sei. Mas a inquietação em que estive desde que terminei a leitura me impossibilitou de escolher outra coisa. O engraçado é que eu nem estava tão interessada assim nele, havia visto o título ridiculamente barato em algumas promoções e sempre deixei passar. Mas recentemente uma colega da faculdade começou a falar sobre ele no twitter e atiçou minha curiosidade.

    Afinal, o que havia nessas páginas que a fizeram declarar esse como um de seus títulos favoritos? Sem contar os mil elogios tecidos pela tal colega, comecei a leitura quase como num encontro às escuras. Imagine então a minha surpresa ao perceber que esse não só é uma história real, como também um bem elaborado relato da experiência de uma jornalista lá do outro lado do mundo? E que esse texto vem trazer a tona uma realidade cruel de mais para qualquer mulher por os olhos sem acabar em luto ou sentimento semelhante por toda uma cultura que, mesmo em sua infinita riqueza, ainda faz de nós, mulheres, menos dignas do que um animal.

    Xinran, a autora de extrema sensibilidade que assina As boas mulheres da China, não tem em momento algum a intenção de ser hostil ou cruel. Ela apenas conta as histórias que lhe foram contadas, e algumas que por ela mesma foram vividas. E no virar de cada página sentimos a dor dessas mulheres que foram privadas de muito, mas sob todas as coisas, do direito de conhecerem a si mesmas.
Afinal, o que é ser mulher? Em dado momento do livro, Xinran conta sobre a época em que foi estudar no continente europeu, e de certa vez ter reclamado com a mãe ao telefone de como se sentia insegura e mal por estar em uma cultura tão diferente da sua. A sua interlocutora, por sua vez, pediu-a que não reclamasse, pois ela estava tendo a oportunidade de descobrir o que é ser uma mulher.

    Citei esse momento pois vi nele uma sensibilidade extrema. Você consegue imaginar o que é precisar imergir em uma cultura completamente diferente da sua para aprender a escutar o próprio corpo e mente? O que é só se perceber no mundo estando longe das suas origens? Se entender como ser humano tão capaz quanto qualquer outro apenas do outro lado do planeta?

    Acho que não estou conseguindo chegar ao meu ponto aqui, mas talvez esse ponto em questão não seja alcançado com uma mera discussão. É preciso ouvir/ler as histórias. É preciso empatia. E sobretudo, é preciso coragem. Pois em algum momento começamos a lembrar que também somos mulheres. E que os casos contados aqui não são exclusividade de um país oriental. Que a violência contra a mulher é algo real e constante e que provavelmente está acontecendo aqui, nessa mesma avenida em que moro, nesse mesmo instante em que escrevo.

    Talvez o incrível desse livro seja isso. Nós pensamos sim nas mulheres chinesas. Mas também pensamos na nossa vizinha que foi assassinada pelo ex-marido. Na nossa conhecida que foi estuprada. Na nossa tia que apanhava do marido e acabou criando os filhos sozinha. Nas mulheres das quais só ouvimos falar e ainda assim tomamos as dores delas. Porque é impossível não tomar. Não quando se é mulher. De verdade.


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