
Eu não sei o que eu tinha na cabeça quando resolvi escrever sobre esse livro. De verdade. Porque se quer pensar em Lolita é confuso e angustiante, mas talvez colocar em palavras as minhas ideias e sentimentos loucos a respeito desse livro me ajude um pouco. Afinal, quem bem me conhece sabe que eu penso melhor escrevendo.
Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.
Esse trechinho ai em cima são as primeiras frases do primeiro capítulo da parte I. Mas não se engane pela boa lábia, se há em algum lugar uma lista dos narradores menos confiáveis (e eu tenho quase certeza que há) Humbert Humbert provavelmente encabeça a mesma. E vamos deixar uma coisa bem clara desde o começo, se há um vilão nessa história (o que eu prefiro achar que não, pois tudo que vejo são os piores exemplares de ser humano reunidos) esse alguém é o nosso infame H. H.
Dito isto, vamos em frente. A primeira grande afirmação que faço aqui é: se você vê uma história de amor em Lolita, suas definições de relacionamento saudável precisam ser URGENTEMENTE atualizadas. Essa é a história de um pedófilo. E de uma menina de 12 anos. E de tudo de pior que pôde proceder dessa mistura amarga.
Algumas pessoas -que apenas haviam visto o filme, diga-se de passagem- tentaram me dizer que Lolita também tinha culpa do que havia acontecido com ela. Mas é meio difícil me convencer disso, sinto dizer. Lolita não é nenhuma inocente (e vai por mim, ela é muuuuito precoce para a idade e época em que a história se passa), mas daí a responsabiliza-la pelas atitudes de Humbert é de mais para o meu curto pavio.
O senhor H. H. já começa sua confissão contando sobre outras ninfetas com as quais havia satisfeito seus desejos (prostitutas, em sua maioria). O senhor H. H. se muda para a cidade em que conhece Dolores pela simples ideia de dar aulas a uma menina que poderia vir a ser o que ele considera uma ninfeta. O senhor H. H. se casa com a mãe de Lolita pelo simples fato de que seria o caminho mais fácil para estar com a menina. E estou me coçando muito para não soltar alguns spoilers brutais aqui e deixar claro de uma vez porque o senhor H. H. é um velho depravado e pervertido. Mas ok, sigamos com o livro.
O sentimento de Humbert por Lolita é doentio e possessivo. Se essa fosse a história de um relacionamento entre um casal de idades semelhantes já seria o relato de um relacionamento completamente abusivo. Se tratando de um relacionamento entre um homem muito mais velho e uma criança (e nada me tira da cabeça que Lolita é ainda uma criança, justamente porque seu tempo de crescer lhe foi roubado) é a coisa mais dolorosa de se ler, afinal, Humbert não apenas abusou fisicamente da garota. Ele também a chantageou e torturou psicologicamente. E isso eu jamais vou poder perdoar. As pessoas precisam para de vender Lolita como simplesmente uma história de um romance entre um homem mais velho e sua enteada.
Eu sei que fiz parecer que esse é um dos piores livros que já li na minha vida, mas honestamente, passa bem longe disso. Ele é sujo, cruel, vil, conta a história de um pedófilo e não há finais felizes aqui, se é o que você espera. Mas é um dos livros mais bem escritos em que já pus os olhos. E o que faz de H. H. um narrador não confiável não é a história depravada que ele conta, mas sim o modo como o faz. H. H. é tão humano que as vezes nos cega em sua doença. Ele é um velho professor, literata, europeu culto que conhece muito bem as artimanhas de um bom narrador. E veja só, se você não tiver alguns limites bem firmados, é fácil entender porque algumas pessoas engolem o vitimismo que ele faz. É maligno, mas brilhante.
Ao autor, meus mais sinceros elogios. Escrever uma história como essa é provavelmente um pesadelo, escreve-la com tamanha maestria que faça o leitor passar as páginas com avidez, mesmo que em certas vezes enojados, é missão que pouquíssimos conseguiram. E fazer ser publicado, mesmo que cada leitor consciente do que essa história representa ainda assim sinta o desejo e a volúpia de H. H. escorrer página após página, nunca vi autor igual.
Vladimir Nabokov foi um romancista russo-estadunidense. Seus primeiros nove romances foram escritos em russo, e ele conseguiu a proeminência internacional depois que ele começou a escrever prosa em inglês. Lolita (1955), seu romance mais famoso em inglês, foi classificado em quarto na lista dos 100 melhores romances da Modern Library, Fogo Pálido (1962) foi classificado em 53 na mesma lista, e sua memória, Fala, Memória (1951), foi listado oitavo na lista do editor das maiores não-ficções do século XX.
No hotel, ficamos em quartos separados, mas no meio da noite ela entrou soluçando no meu, e fizemos a coisa muito suavemente. Vocês compreendem, ela não tinha mesmo pra onde ir.
Vladimir Nabokov foi um romancista russo-estadunidense. Seus primeiros nove romances foram escritos em russo, e ele conseguiu a proeminência internacional depois que ele começou a escrever prosa em inglês. Lolita (1955), seu romance mais famoso em inglês, foi classificado em quarto na lista dos 100 melhores romances da Modern Library, Fogo Pálido (1962) foi classificado em 53 na mesma lista, e sua memória, Fala, Memória (1951), foi listado oitavo na lista do editor das maiores não-ficções do século XX.
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