
Outro daqueles crimes que cometo e depois imploro perdão: Assisti o filme (2013) muito antes de ler o livro. Para ser bem exata, nas férias de junho de 2014. E eu me lembro, com exatidão, de como me apaixonei por ele. Principalmente porque, na época, tinha aula de literatura com a melhor professora que jamais imaginei encontrar, e ela simplesmente não parava de falar sobre a queda da visão do tempo como algo circular, na pós-modernidade o tempo é elíptico. Então, da pra entender como eu viajei bastante assistindo esse filme. E como eu me arrependo de ter levado tanto tempo para devorar o livro.
Sua ilusão tinha-se projetado além dela, além de tudo. Ela lançara-se ao seu sonho com uma paixão criadora, acrescentando-lhe incessantemente alguma coisa, enfeitando-o com todas as vigorosas plumagens com que deparava. Quantidade alguma de ardor ou de entusiasmo pode competir com aquilo que um homem pode armazenar em seu fantasmagórico coração.
O texto é considerado um clássico da literatura norte-americana, e não é para menos. A história que se passa em 1922 (alô Modernismo!) é uma critica ferrenha ao American Dream, principalmente num período pós Primeira Guerra Mundial, quando a sociedade se desfazia no caos e tentava, a todo custo, se recompor e readequar depois das mudanças provocadas pela mesma.
Um dos detalhes mais interessantes da obra e que vale ser comentado aqui, é a escolha do autor sobre como conta-la. Ao invés de usar o usual narrador observador, ou deixar o próprio Gatsby contar a sua história, ele passa a palavra para Nick Carraway, um narrador personagem que também é observador -e por acaso, escritor- o que permite ao texto uma infinidade de floreios literários que tornam a leitura fácil e, é claro, muito me agradam.
Mas deixando de lado a parte teórica, o que encanta mesmo nesse livro é o seu personagem principal. Numa sociedade impregnada pela amoralidade e egoísmo, Gatsby talvez seja o ultimo dos românticos. Beirando quase a ingenuidade, o amor do protagonista por Daisy, mulher por quem move céus e terras, é absoluto, obsessivo e por vezes, nocivo.
Não, eu não sou louca. É que, como pessoa que adora literatura, eu vejo nesse queridíssimo personagem principal, o confronto entre o romantismo idealizador e a modernidade que tenta, a todo custo, romper com essa tradição que já não cabe mais. E eu não poderia deixar de falar daquela que representa essa ruptura, é claro.
Deisy é o retrato do próprio conflito. Ela o ama, ou o amou o suficiente para não se esquecer como era. Mas agora mais velha, casada, com uma filha, um esposo e uma vida com todos os caprichos que foi ensinada a querer, vê-se diante da escolha entre viver uma grande aventura e se livrar da depressão que a vida infeliz a levou, ou continuar na segurança de saber que, por pior que se sinta, sua vida é perfeita como a de outras jamais foram.
Gatsby ainda nos faz refletir sobre a ideia de que tudo é valido para conseguir nossos objetivos, os meios não importam, desde que consigamos alcançar o fim tão almejado. Em sua bondade para tudo que envolvesse a sua amada ou que pudesse o ajudar a se aproximar um pouco mais dela, Gatsby se perde em meio a atos ilícitos e péssimas companhias que, no fim, não valem tanto a pena.
Mas esses são só alguns pontos que me chamaram a atenção na história, e me fizeram a amar como a poucas outras ao longo dos anos. O Grande Gatsby não é só uma boa história, é um ótimo livro, escrito de maneira que faça os olhos do leitor escorregarem pelas linhas com suavidade e no fim das duzentas e poucas páginas, sentir-se mergulhado no drama do infeliz homem que se atreveu a, sobre todas as coisas, amar.
Durante algum tempo, esses devaneios proporcionavam uma válvula de escape à sua imaginação; eram uma sugestão satisfatória da irrealidade da realidade, uma promessa de que o rochedo do mundo se apoiava com segurança sobre uma asa encantada.
F. Scott Fitzgerald foi um escritor, romancista, contista, roteirista e poeta norte-americano. É considerado um dos maiores escritores americanos do século XX e suas histórias, reunidas sob o título Contos da Era do Jazz, refletiam o estado de espírito da época. Foi um dos escritores da chamada "geração perdida" da literatura americana.
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